OMS pede transparência ao Brasil na divulgação de dados da covid-19
Entidade ressalta importância da consistência ao fornecer informações para a população
A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu "transparência" ao Brasil na divulgação de dados sobre a covid-19, nesta segunda-feira, 8. A entidade espera uma rápida solução para a "confusão" no
País, e ressalta que a clareza no processo é "ainda mais importante"
para os cidadãos. Este é o primeiro pronunciamento do órgão sobre a
recente alteração no boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, que passou a ocultar os números acumulados de casos e de mortes em decorrência do coronavírus.
"É
muito importante que mensagens sobre transparência sejam consistentes,
para que possamos confiar nos nossos parceiros. É mais importante ainda
para os cidadãos, que precisam entender como lidar com o vírus. Queremos
que qualquer confusão possa ser resolvida agora, e que o governo e os
Estados possam continuar fornecendo dados de forma consistente para seus
cidadãos. Continuaremos apoiando o governo brasileiro para controlar
essa doença o mais rápido possível", afirmou Michael Ryan, diretor do programa de emergências da entidade.
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De
acordo com Ryan, a OMS entende que o Brasil continuará divulgando os
números diários de maneira "desagregada" à população. O diretor, porém,
garantiu que a entidade está satisfeita com a forma atual como recebe os
dados, por parte do País e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).

"Possuímos
dados extremamente detalhados do Brasil. Alguns desses dados recebidos
diariamente, inclusive, estão entre os mais detalhados e atualizados do
mundo. Realmente esperamos que isso continue. É um país muito grande,
com uma população muito diversa e vulnerável, principalmente nas áreas
urbanas e indígenas", disse.
A OMS voltou a expressar preocupação
com o avanço da pandemia na América Latina. Ryan reforçou que muitos
países da região enfrentam graves problemas, com pressão sobre os
sistemas de saúde e escassez de leitos de UTI, além de "medo e confusão"
nas comunidades.
"Neste momento, a epidemia nas Américas Central
e do Sul é a mais complexa entre todas as situações que enfrentamos
globalmente. O mundo precisa dar o suporte necessário a esses países,
para ajudá-los a lidar com os impactos da pandemia", admitiu o diretor.
A polêmica dos números
A
confusão na divulgação dos dados do Ministério da Saúde começou na
última quarta-feira, 3, quando os números diários da doença no País só
foram publicados às 22h. Na sexta-feira, 6, o presidente Jair Bolsonaro
confirmou a alteração, sob a justificativa de "obter dados mais
precisos sobre cada região". Entre os inícios de maio e junho, o boletim
era publicado por volta das 19h.
A plataforma do Ministério, que continha números e gráficos detalhados sobre a situação da covid-19 no País, chegou a ficar fora do ar por um dia, entre quinta e sexta-feira. Na ocasião, a pasta sugeriu uma recontagem no número de óbitos. O site voltou ao ar na sexta, mas apenas com dados de casos, mortes e recuperados nas últimas 24 horas.
O caos se ampliou no fim de semana. Neste domingo,
7, as informações oficiais, às 20h37, eram de 1.382 novos óbitos e
12.581 novos casos de infectados em 24 horas. Às 21h50, no entanto, a
plataforma trazia dados diferentes: 525 óbitos e 18.912 casos. Nesta
segunda, 8, o Ministério da Saúde esclareceu
que os números divulgados por último eram os verdadeiros. Com isso,
o total de casos no Brasil, até o momento, é de 691.758, além de 36.455
mortes.
Em resposta à decisão do governo de restringir o acesso a dados sobre a pandemia, os veículos O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo, O Globo, Extra, G1 e UOL decidiram
formar uma parceria e trabalhar de forma colaborativa para buscar as
informações necessárias nos 26 Estados e no Distrito Federal. O balanço
diário será fechado às 20h, e cada órgão de imprensa divulgará o
resultado desse acompanhamento em seus respectivos canais.
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