Comesp e Defensoria Pública promovem debate sobre mortalidade materna e violência obstétrica
Evento lembrou os 10 anos do Caso Alyne Pimentel.
A
Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar
do Poder Judiciário do Estado de São Paulo (Comesp) participou, nesta
sexta-feira (13), do evento “10 anos do Caso Alyne Pimentel: mortalidade
materna, racismo e violência obstétrica no Brasil”, promovido pela
Defensoria Pública de São Paulo em parceria com o Tribunal de Justiça de
São Paulo e transmitido pela plataforma Teams. A juíza da Vara da Região Oeste de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Capital e integrante da Comesp, Rafaela Caldeira Gonçalves, representou o TJSP.
Na abertura, a defensora pública
Paula Sant´Anna Machado de Souza, coordenadora do Núcleo de Promoção e
Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública de São Paulo,
destacou a necessidade de se refletir como e por que o Brasil foi
responsável por 77% das mortes maternas por Covid-19 no mundo. “Parece
que, com a pandemia, houve um salvo-conduto para não se cumprir os
direitos básicos das mulheres grávidas. Isto mostra como as mulheres,
sobretudo as gestantes, ainda não estão devidamente incluídas como
cidadãs nas políticas públicas do Estado.”
Temas como racismo estrutural
ligado à violência obstétrica, história e avanços das leis de proteção
às gestantes, violação de direitos humanos das mulheres, falta de
acolhimento e vulnerabilidade da mulher durante o pré-natal e mortes
maternas no contexto da pandemia foram os principais temas abordados
pelas palestrantes: a advogada Leila Linhares Barsted; a médica e
especialista em saúde da família Denize Ornelas; e a médica e presidente
da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo,
Rossana Pulcineli Vieira Francisco. O evento contou, ainda, com a
participação da defensora pública Nalida Coelho Monte, nos debates.
A juíza Rafaela Gonçalves
afirmou que o Poder Judiciário não pode se omitir diante de abusos
contra os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres no Brasil. “Como
juíza, não foram poucas as vezes que, nas reuniões de rede das quais
participei durante a pandemia, foram relatadas dificuldades das mulheres
em fazer exames relacionados a agressões e abusos sexuais”, contou. “A
garantia de acesso à saúde sexual e reprodutiva é de aplicação imediata,
e não progressiva.”
Caso Alyne Pimentel
–Alyne da Silva Pimentel Teixeira era negra, casada, mãe de uma filha
de cinco anos e tinha 28 anos de idade. Em 14 de novembro de 2002, ela
estava no sexto mês de gestação, quando, ao sentir náuseas e fortes
dores abdominais, buscou assistência na rede pública na Baixada
Fluminense, no estado do Rio de Janeiro. Uma sucessão de falhas
deatendimento vitimaram a gestante, que acabou morrendo.
O caso foi apresentado à
Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra
as Mulheres (Cedaw), órgão ligado à ONU, pela mãe de Alyne. O comitê
responsabilizou o Estado brasileiro por não cumprir seu papel de prestar
o atendimento médico adequado desde o início das complicações na
gravidez de Alyne.
O Caso Alyne Pimentel é a
primeira denúncia sobre mortalidade materna acolhida por um comitê
internacional e seu julgamento marca a luta contra a violência
obstétrica e a violação de direitos humanos das mulheres.
Comunicação Social TJSP – DM (texto) / AC (reprodução e arte)
imprensatj@tjsp.jus.br
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