Alexandre suspende nomeação de Ramagem para chefia da Polícia Federal
Posse estava marcada para às 15h desta quarta; decisão liminar atende pedido do PDT que apontava desvio de finalidade na nomeação do ex-diretor da Abin, amigo da família Bolsonaro
Paulo Roberto Netto, Pepita Ortega/SÃO PAULO e Rafael Moraes Moura/BRASÍLIA
29 de abril de 2020 | 10h15
29 de abril de 2020 | 10h15
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu nesta quarta, 29, o decreto de nomeação do ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, para a direção-geral da Polícia Federal. A decisão liminar atende pedido apresentado pelo PDT após o governo baixar decreto confirmando a indicação. A posse estava marcada para às 15h desta quarta.
Documento
De
acordo com o ministro, as declarações do ex-ministro Sérgio Moro sobre
tentativa de interferências na autonomia da corporação, a divulgação de
mensagens trocadas com o ex-ministro e a abertura do inquérito no próprio Supremo para investigar as acusações motivam a necessidade de impedir a posse de Ramagem. Segundo Alexandre de Moraes, o caso apresenta ‘ocorrência de desvio de finalidade’.
“Tais
acontecimentos, juntamente com o fato de a Polícia Federal não ser
órgão de inteligência da Presidência da República, mas sim exercer, os
termos do artigo 144, §1º, VI da Constituição Federal, com
exclusividade, as funções de polícia judiciária da União, inclusive em
diversas investigações sigilosas, demonstram, em sede de cognição
inicial, estarem presentes os requisitos necessários para a concessão da
medida liminar pleiteada”, afirma Moraes.
O ministro afirma que o
inquérito sob relatoria do decano, ministro Celso de Mello, deverá
apurar eventuais práticas de crimes relacionados, inclusive, com a
própria nomeação de Ramagem para o comando da PF.
De acordo com
Alexandre de Moraes, cabe ao Supremo o ‘dever de analisar se determinada
nomeação, no exercício do poder discrionário do Presidente da
República, está vinculada ao império constitucional’, pois o ato de
nomeação’deve ser feito legal, moral e impessoalmente’ pelo governo
federal. O ministro destacou que, no caso específico, Bolsonaro não
apenas deixou de rebater Moro, como confirmou as alegações do
ex-ministro.
“Essas alegações foram confirmadas, no mesmo dia,
pelo próprio Presidente da República, também em entrevista coletiva, ao
afirmar que, por não possuir informações da Polícia Federal, precisaria
‘todo dia ter um relatório do que aconteceu, em especial nas últimas
vinte e quatro horas'”, escreveu Alexandre.

Ramagem, em foto com Carlos Bolsonaro em comemoração. Foto: Reprodução/Instagram
Alexandre
Ramagem, delegado da Polícia Federal, entrou para o rol auxiliares de
confiança do Planalto com o apoio do vereador Carlos Bolsonaro
(Republicanos-RJ). Ao filho do presidente, é atribuída a nomeação de Ramagem para a Abin, em julho do ano passado.
A
ação movida pelo PDT destacava a acusação de Moro sobre tentativas do
presidente Jair Bolsonaro em obter informações sigilosas a partir da
troca do comando da PF. O partido alega que a nomeação de Ramagem, neste
cenário, seria desvio de finalidade.
“Malgrado não tenha sido
auditada por autoridade competente, o Presidente da República em nenhum
momento negou a veracidade do conteúdo em comento”, apontou o partido.
Blindagem. Na última sexta, 24, o ministro Alexandre de Moraes baixou decisão para blindar os delegados que atuam no inquérito das Fake News,
do Supremo, e impedir que sejam trocados em meio à mudança de comando
da PF. Os mesmos delegados conduzem as investigações sobre atos
democráticos que ocorreram em Brasília há duas semanas, os quais o presidente participou e avisou que ‘não quer negociar nada’.
O inquérito das fake news é um dos que preocupam o presidente. A investigação identificou empresários bolsonaristas que estariam financiando ataques contra ministros da Corte nas redes sociais, conforme revelou o Estado.
A
investigação é conduzida por Igor Romário de Paula, que integrou a Lava
Jato em Curitiba, e é tido como um aliado do ex-ministro Sérgio Moro, e
também Denisse Dias Rosas Ribeiro, Fábio Alceu Mertens e Daniel Daher.
Em uma nova decisão, Alexandre determina que o inquérito deve continuar
nas mãos destes delegados.
Já o inquérito 4828, foi solicitado
pelo procurador-geral, Augusto Aras, para mirar “fatos em tese
delituosos envolvendo a organização de atos contra o regime da
democracia participativa brasileira”. O objetivo é verificar se houve
violação à Lei de Segurança Nacional nos protestos ocorridos no último
domingo.
Para esta investigação, Alexandre decidiu hoje que os
mesmos delegados do inquérito das fake news devem conduzi-las. Esse
inquérito não mira o presidente, que também participou dos atos, mas
inclui deputados em seu polo de investigados.
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