Qual é a hora certa de relaxar a quarentena por causa do coronavírus?
Para cientistas, iniciar ‘reabertura’ sem reverter curva da pandemia pode levar à 2ª onda de contágio
José Fucs, O Estado de S.Paulo
27 de abril de 2020 | 14h18
Depois de mais de um mês de quarentena por causa do coronavírus
em quase todo o País, a maioria dos Estados e municípios começa a
planejar o relaxamento das restrições. Alguns se adiantaram, acelerando a
“reabertura” e autorizando até o funcionamento de shopping centers e
outras atividades que geram aglomerações.
Embora
boa parte da população se mostre temerosa em relação à possibilidade de
contrair o vírus e à sua letalidade, em linha com os alertas dos
cientistas e profissionais de saúde, muitos brasileiros parecem seguir
com a vida normalmente, como se nada estivesse acontecendo.

De
acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, o Brasil é o
segundo país com maior descrença no isolamento social, ao lado da
Alemanha e abaixo apenas da Índia. Pelo levantamento, 54% dos
entrevistados no País afirmaram acreditar pouco nas medidas de
confinamento, enquanto na Índia o índice chega a 56%.
‘Corda bamba’
Ainda
assim, diante da perspectiva de reabertura generalizada nas próximas
semanas, algumas questões vêm à tona. Será que é hora de começar a
relaxar a quarentena? Como fazer a liberação das atividades em
segurança? Quais os riscos que o País corre se a reabertura for feita de
forma precipitada?
As respostas a essas perguntas são
fundamentais para definir o momento certo e o ritmo da flexibilização.
Um erro no cronograma pode ter um custo muito alto, multiplicando o
contágio e o número de mortes e comprometendo a capacidade de
atendimento do sistema de saúde. “Isso será como andar na corda bamba”,
disse Mette Frederiksen, primeira-ministra da Dinamarca, que iniciou a
reabertura na semana passada, em entrevista coletiva “Nós precisamos dar
um passo de cada vez.”
Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), é preciso cumprir seis pré-condições para flexibilizar a
quarentena. Em resumo, o roteiro diz que, para aliviar as restrições, é
preciso ter adotado medidas preventivas, que permitiram o controle do
contágio, e ter condições de aplicar testes em massa e capacidade do
sistema de saúde para atender a população. A antecipação da reabertura,
sem a reversão das curvas de infectados e de mortes, pode levar, segundo
a OMS, a uma segunda onda de contaminação até mais forte que a
primeira.
No exterior, com raras exceções, a maioria dos países
está seguindo o protocolo da OMS. Em geral, as primeiras experiências de
reabertura pelo mundo estão se dando em países que alcançaram bons
resultados na contenção da pandemia. O relaxamento nas restrições está
sendo feito em fases, para ir calibrando o ritmo conforme a evolução dos
casos, levando em conta também, algumas vezes, as diferenças regionais (leia o texto acima).
Para
deflagrar o processo de alívio na quarentena, o ideal, de acordo com
recomendações de epidemiologistas, é que ele esteja baseado em dados
sólidos, que permitam uma visão relativamente precisa do quadro.
O
problema é que, no Brasil, faltam números confiáveis. Muitos analistas
dizem haver uma subnotificação significativa de casos, tanto de
contaminação quanto de morte, em razão da falta de testes. Além disso,
as curvas de contágio e mortes ainda não mostram sinais de queda nas
notificações.
Mas, apesar de navegar na escuridão, o novo
ministro da Saúde, Nelson Teich, anunciou que deverá apresentar nesta
semana um guia para nortear a flexibilização da quarentena no País, para
evitar que cada Estado e cada município adotem uma receita própria.
“Se
o melhor para a sociedade for o isolamento, é o que vai ser”, afirmou
Teich na semana passada. “Se puder flexibilizar, dando uma autonomia e
uma vida melhor para as pessoas, e isso não influenciar na doença, é o
que vou fazer”, disse o ministro.
Como o Supremo Tribunal Federal
(STF) decidiu que os Estados têm autonomia para adotar medidas contra o
coronavírus, porém, o roteiro deverá servir apenas como referência. De
qualquer forma, com a falta de protocolo nacional para reger o
isolamento e promover a reabertura no País, já será um avanço.
FONTE : O ESTADO DE SÃO PAULO
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