STJ – Seguro de responsabilidade civil para gestor de empresa não cobre atos fraudulentos
Ao julgar recurso de um administrador
de empresas, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
rejeitou o pedido para que fossem incluídos na cobertura do seguro de
responsabilidade civil de diretores e administradores de pessoa jurídica
(seguro de RC D&O) atos investigados como insider trading.
Para o ministro relator do recurso, Villas Bôas Cueva, atos
fraudulentos e desonestos de favorecimento pessoal e práticas dolosas
lesivas à companhia e ao mercado de capitais, a exemplo do insider trading, não estão abrangidos na garantia securitária.
Além disso, na visão do magistrado, a omissão de informações
relevantes na hora da contratação ou renovação do seguro levou a
seguradora ao erro, já que não havia ciência plena do risco a ser
assumido.
No caso analisado, as informações prestadas no questionário de risco
não correspondiam à realidade da empresa. O ministro destacou que a
conduta dolosa já estava sob investigação da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) antes da renovação do seguro, o que dá respaldo à
sanção de perda do direito à indenização securitária.
Nesse caso, o entendimento unânime dos ministros da turma é que não
há cobertura securitária para ressarcir a empresa com o prejuízo dos
atos praticados (negociação de ações feita com informações
privilegiadas, prática conhecida no mercado como insider trading).
Atos de gestão
O ministro explicou que a cobertura feita nesse tipo de seguro é
restrita a atos culposos da gestão dos administradores de empresa, não
sendo possível securitizar atos de favorecimento pessoal decorrentes de
conduta dolosa de um ou mais administradores.
“A apólice do seguro de RC D&O não pode cobrir atos dolosos,
principalmente se cometidos para favorecer a própria pessoa do
administrador. De fato, a garantia securitária do risco não pode induzir
à irresponsabilidade”, explicou o ministro.
No caso em questão, a empresa tinha ciência de investigações a respeito da prática de insider trading
desde março de 2009, mas ao renovar a apólice em novembro de 2009 foram
dadas respostas negativas às perguntas sobre a existência de
investigações contra administradores e diretores.
O segurado recorrente alegou que não tinha ciência das investigações,
portanto não poderia ter respondido ao questionário de forma diferente.
Segundo o relator, o acórdão recorrido está correto ao demonstrar que a
empresa, tomadora do seguro, inclusive respondeu a ofícios da CVM sobre
a investigação, ou seja, havia conhecimento expresso da investigação
sobre a prática de fraudes, de modo que as respostas ao questionário de
risco foram omissas quanto a informações relevantes e conexas com o
sinistro.
Dessa forma, na visão dos ministros, os atos foram praticados em
benefício pessoal e não se enquadram como atos culposos de gestão de
administrador cobertos pelo seguro.
Leia o voto do relator.
Processo: REsp 1601555
Fonte: Superior Tribunal de Justiça/AASP
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